PROVOCAÇÃO
Num discurso inflamado, no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado nesta quinta-feira…
Lula diz que bandeira verde e amarela é dos brasileiros e fala pra Bolsonaro ir para os Estados Unidos (Foto: Jucimar de Sousa)
Num discurso inflamado, no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado nesta quinta-feira (17), em Goiânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não poupou de críticas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e por tabela o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de quebra tentou “repatriar” as cores da bandeira brasileira.
“A bandeira verde e amarela vai voltar a ser do povo brasileiro. O Bolsonaro se abraça na bandeira americana. Transfira seu título pra lá e vá votar lá. Aqui quem manda somos nós, brasileiros”, destacou sob aplausos e gritos dos estudantes.
O discurso de Lula foi marcado pela defesa da soberania nacional e por duras críticas ao conteúdo da carta enviada por Trump ao governo brasileiro, em que ameaça sobretaxar em até 50% produtos do Brasil caso Bolsonaro não seja libertado.
Defesa da soberania e recado de Lula a Trump
Lula chamou de “desrespeitosa” a comunicação enviada pelo governo norte-americano e afirmou que o Brasil não aceitará nenhum tipo de imposição externa. “O Brasil tem 201 anos de relação diplomática com os Estados Unidos. Não é 200 dias. […] Não aceitamos que ninguém, de nenhum país fora do Brasil, se meta nos nossos problemas internos. É a primeira vez na história do país que temos três generais de quatro estrelas presos. E não estão presos à toa. Estão presos porque tentaram dar um golpe.”
O presidente criticou ainda o conteúdo da carta enviada pela Casa Branca. “A carta não fala sobre negociação. A carta fala ‘é ou desce’. Essa é a lógica: ‘libera o Bolsonaro porque o filho dele tá aqui me enchendo o saco’. Eles não tiveram nenhuma preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao povo brasileiro.”
Lula também comparou a tentativa de golpe no Brasil com o episódio do Capitólio. “Se o Trump morasse no Brasil, e ele tentasse aqui o que ele fez no Capitólio, ele estaria julgado e, certamente, estaria preso.”
Tributação de big techs e combate à desinformação
Durante o discurso, Lula anunciou que o Brasil vai tributar empresas digitais americanas e voltou a defender o combate à desinformação e aos discursos de ódio.
“A gente vai julgar e vai cobrar imposto das empresas americanas digitais. Nós não aceitamos que a liberdade de expressão seja utilizada para fazer agressão e mentiras, para estimular violência contra as crianças, contra mulheres, negros, LGBTQIA+. Aqui não vamos permitir. Aqui é o povo brasileiro.”
“Eu sei negociar”, diz Lula
Em tom firme, Lula ainda destacou sua experiência em negociações e defendeu o multilateralismo como alternativa à imposição unilateral de interesses.
“Eu nasci aprendendo a fazer negociação. Tenho certeza de que o presidente norte-americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida. Nada é conseguido na marra. Tudo se conquista com boa conversa e conhecimento.”
O presidente também disse que seu governo mantém diálogo constante com diversos países e voltou a afirmar que o Brasil não tem contenciosos com nenhuma nação:
“O Brasil é um defensor do multilateralismo. Já tive reunião com os 54 países da União Africana, com a União Europeia, China, Japão, Vietnã, América Latina, Caribe. Fizemos o melhor G20 e Brics do mundo. Vamos fazer a melhor COP30, no coração da Amazônia.”
“Se quiserem truco, a gente grita seis”
Lula encerrou seu discurso com uma metáfora que resume o tom da resposta ao governo norte-americano:
“Eu sou jogador de truco. Quando o cara truca, a gente tem que escolher: ou corre, ou grita seis na orelha dele. O Brasil gosta de negociação, respeita o diálogo. Mas não é um gringo que vai dar ordem ao presidente da República. Eu sei a quem devo respeitar nesse país. O nome dessa pessoa tem quatro letras: povo.”