Após reunião de Trump e Lula, dólar cai a R$ 5,37

(O Globo) O Ibovespa fechou em alta de 0,55% nesta segunda-feira, renovando sua máxima histórica nominal, aos 146.969 pontos. Já o dólar fechou em desvalorização de 0,42%, cotado a R$ 5,369.

Para analistas, contribuíram com o dia positivo nos indicadores e ao aumento do apetite ao risco pelos investidores a sinalização de negociações comerciais de Trump, tanto com Lula, ocorrida ontem, quanto com Xi Jinping, o líder da segunda maior economia do mundo, que está marcado para acontecer na próxima quinta-feira.

— (O desempenho) É muito sustentando pelo encontro entre Lula e Trump, mas também com expectativa de (encontro entre) Trump e Xi Jinping — disse Giovanni Bianchi, trader do BR Partners. Para ele, o encontro dos chefes do Executivo americano e brasileiro, ocorrido ontem, também é relevante para o mercado, sinalizando um reposicionamento das relações diante do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros:

— Ambos acordarem em estratégias técnicas alivia o prêmio de risco e acaba influenciando o fluxo comprador para ativos brasileiros — ele diz, frisando também a importância do encontro entre Trump e Xi. Um acordo entre as duas maiores economias do mundo pode atenuar o desaquecimento do consumo, consequência das tarifas, o que tende a elevar os resultados de empresas e aumentar o valor de commodities.

Durante o dia, o índice também renovou sua máxima histórica intraday, enquanto o pregão está aberto, aos 147.977 pontos.

— O Brasil acompanha hoje uma melhora global ao apetite a risco. Essa perspectiva melhor de China e EUA transborda para os emergentes — disse Jerson Zanlorenzi, chefe da mesa de ações e derivativos BTG Pactual, que também vê a conversa entre o petista e o republicano como fator para o desempenho dos indicadores de hoje: — Naturalmente, uma conversa entre Trump e Lula é positiva, porque ruído com os EUA é ruim para os negócios. A sinalização, sem grandes anúncios ainda, ajuda o humor do mercado.

Para analistas, a aproximação da reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) na próxima quarta-feira, que deve ratificar mais um corte no juro americano, também alimenta o ímpeto à tomada de risco.

— Essa figura estrutural se mantém: menos juros nos EUA era perspectiva há alguns meses. Depois tivemos o primeiro (corte) e vamos ter mais um. Vai se concretizando menos juros e o dólar segue um caminho estrutural de perda de força — diz Zanlorenzi, associando também o desempenho à temporada de balanços do terceiro trimestre no Brasil, que possui “ótima perspectiva” diante dos chamados múltiplos descontados.

Para ele, o apetite do estrangeiro com os papéis brasileiros aumenta diante da relação entre o preço em que as empresas são negociadas e a capacidade de resultados que dão, relação esta que está abaixo da média histórica, ou seja, descontadas.

Para Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset, o CPI, dado de inflação ao consumidor de setembro, divulgado na semana passada, também contribuiu para a redução do dólar nesta segunda:

— Não houve um movimento completo na sexta porque havia alguns eventos relacionados a essa negociação e tarifária entre EUA e China. Havia um componente de cautela. Passou o fim de semana, as notícias foram positivas, e você tem aí um comportamento resultante dessa história como um todo — afirmou ela.

O juro dos EUA calibra o valor do dólar, o que impacta moedas e investimentos em todo mundo. Quando a taxa está alta, parte volumosa dos investidores decide optar por aplicações nos Estados Unidos, já que o país é considerado um dos mais seguros do mundo para “deixar o dinheiro guardado”. Com menos dólares no mundo, seu preço aumenta.

Diante do ciclo de baixa do juro por lá, iniciado no mês passado, o capital global começa a buscar aplicações que possam render mais. Isto, além de favorecer ativos com maior risco, como em Bolsa, a desvalorização favorece uma operação conhecida como carry trade, ou carrego.

Como a taxa de juro no Brasil está no maior patamar em duas décadas, em 15% ao ano, parte desses investidores globais decidem tomar empréstimos em economias com taxas de juros baixas, trazendo a quantia em dólares ao Brasil. Através deste movimento, os investidores conseguem rendimentos maiores e, consequentemente, há redução no valor do câmbio por aqui. Este foi um dos fatores para derrubar a cotação, na última sexta, para seu menor valor desde junho do ano passado.

IPCA menor também favorece

Divulgado mais cedo, o Boletim Focus, documento que reúne as expectativas do mercado para os principais indicadores da economia, mostrou pela quinta semana seguida uma redução da previsão de inflação, agora mais perto do teto da meta (de 4,5%, definida pelo Conselho Monetário Nacional), com os analistas prevendo que o IPCA encerre o ano a 4,56%.

— Com o IPCA-15 melhor que o esperado (divulgado na semana passada), que teve impacto sobre o Focus, vemos continuidade da queda da projeção de 2025 e 2026. Sugere uma dinâmica que, se continuar o que vemos no IPCA-15, tende a ser mais benigna no fim de ano do que era o esperado, aumentando a probabilidade que o IPCA feche abaixo do teto da meta — disse Marianna, da Mirae Asset.

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